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Writer's pictureInstituto Nacional de Epidemiologia e Estatística

Epidemiologia das fraturas do terço proximal do fêmur em pacientes idosos

A fratura do fêmur emerge como um dos principais problemas de saúde associada ao envelhecimento da população, responsável por elevadas taxas de morbimortalidade e pelo comprometimento da qualidade de vida da população idosa. Embora alterações na densidade óssea em consequência de osteoporose tenham sido amplamente associados à incidência de fratura de fêmur em idosos, pouco ainda se conhece sobre o perfil desta morbidade durante diferentes condições.


Nos idosos, essas fraturas ocorrem relacionadas a traumas de baixa energia. A principal causa é queda da própria altura. Diversos fatores de risco são relacionados às fraturas do terço proximal do fêmur, com destaque para idade avançada e osteoporose. Insuficiência renal crônica é um fator significativo para mortalidade intra-hospitalar.


Tais fraturas podem ser divididas em do colo do fêmur, transtrocantéricas e subtrocantéricas. Todas são de tratamento cirúrgico, mas não há consenso para a melhor cirurgia para cada uma dessas. Há, no entanto, fatores relacionados ao tratamento que possivelmente alteram a taxa de mortalidade desses pacientes, entre eles: tempo entre a internação e a cirurgia, uso de antibioticoterapia profilática e fisioterapia pós-operatória.


The AO classification system of proximal femur fractures (reproduced with modifications from: www.gpini.it). 


Nos últimos anos, as fraturas de fêmur têm merecido atenção das autoridades sanitárias brasileiras pelo seu evidente impacto na saúde dos idosos e por suas consequências para o setor público. Estudos atuais revelam que a expectativa de vida dos pacientes que sofrem esse tipo de fratura é reduzida em 15 a 20%, com as taxas de mortalidade relacionadas a esse agravo variando de 15 a 50% no primeiro ano.


Além disso, a incapacidade física total ou parcial após a fratura é outro grande problema, sendo que 50% dos pacientes tornam-se restritos ao leito ou à cadeira de rodas e, daqueles que conseguem retornar ao domicílio, 25 a 35% passam a necessitar de cuidadores ou algum dispositivo para auxiliar a locomoção. Estudo recente avaliando a capacidade funcional e a qualidade de vida de idosos com história de fratura de fêmur um ano após o tratamento cirúrgico identificou dificuldade para deambular com necessidade de auxílio em 44,2%, com menores chances de recuperação da marcha naqueles com idade igual ou superior a 80 anos. Outro estudo, também avaliando idosos um ano após a fratura de fêmur, observou dependência parcial na realização das atividades da vida diária em 19,6% deles e dependência total em 13,7%, significando a existência de algum grau de dependência funcional em mais de 30% dos pacientes.


O número de casos de fraturas de fêmur em idosos no Brasil a exemplo de outros países é alto, atingindo predominantemente mulheres, consequentemente com grandes custos financeiros e sociais. Políticas públicas de saúde visando a controlar os fatores predisponentes para esse evento devem ser urgentemente implementadas, especialmente se considerarmos que as estimativas preveem aumento significativo da população idosa nos próximos anos e consequentemente as doenças e fatores de risco relacionados à idade.



Características Epidemiológicas E Causas Da Fratura Do Terço Proximal Do Fêmur Em Idosos.

José Soares Hungria Neto, Caio Roncon Dias, José Daniel Bula de Almeida

Rev Bras Ortop. 46. 660-667. 2011. 0102-3616


O número de idosos, indivíduos com idade igual ou superior a 60 anos (legislação brasileira), vem aumentando ano a ano, tanto na população mundial quanto no Brasil. Segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), em 1950 havia cerca de 204 milhões de indivíduos idosos no mundo; já em 1998, este contingente alcançava 579 milhões. As projeções indicam que, em 2050, a população idosa será de 1,9 bilhões de pessoas.


Atualmente, uma em cada 10 pessoas tem 60 anos de idade ou mais e, para 2050, estima-se que a relação será de uma para cinco em todo o mundo. No Brasil, os idosos correspondiam a 4,2% da população em 1950; já no ano de 2000, representavam 8,6% e, em 2020, deverão corresponder a 14%, ou cerca de 31 milhões de pessoas.


Esse aumento ocorre principalmente devido às melhores condições de vida e ao constante avanço da medicina, aumentando a expectativa de vida da população. No entanto, esse envelhecimento traz consigo os problemas da terceira idade, como a fratura da região proximal do fêmur, uma causa comum e importante de morbidade e mortalidade nessa faixa etária.


A fratura do terço proximal do fêmur em idosos decorre geralmente de traumas de baixa energia, como quedas, e está relacionada a vários fatores, como: idade avançada, osteoporose, diminuição da força muscular, geometria do quadril, ingestão de cálcio e vitamina-D e predisposição genética. Porter et al demonstraram que o principal fator que leva ao aumento da incidência dessas fraturas na faixa etária acima dos 60 anos é a presença de osteoporose, bem como à maior incidência de quedas. Aproximadamente, um terço das mulheres da raça branca com idade superior aos 65 anos tem osteoporose, e 30% das mulheres idosas caem pelo menos uma vez ao ano. Estima-se que 6.000.000 de indivíduos no mundo irão sofrer fratura de fêmur proximal no ano 2050.


Sakaki et al mostraram que 5,5% dos pacientes com fratura no terço proximal do fêmur morrem durante a internação hospitalar; 4,6%, ao fim de um mês de seguimento; 11,9%, com três meses; 10,8%, com seis meses; 19,2%, com um ano; e 24,9%, com dois anos. Cunha e Veado mostraram mortalidade de 25% em um ano. Quatro fatores estão intimamente relacionados com a mortalidade: idade avançada, número do comorbidades, sexo masculino e presença de deficiências cognitivas.


O custo social e econômico da fratura de fêmur é elevado e decorre, dentre outros fatores, da morbimortalidade da própria fratura e das doenças associadas de um período de internação variável, muitas vezes em unidade de terapia intensiva, cuidados clínicos e cirúrgicos, além de programas de reabilitação por períodos prolongados. E, no período de um ano, apenas 40,5% dos pacientes encontram-se totalmente independentes nas atividade de vida diária.


Apesar da importância da fratura do terço proximal do fêmur, estudos epidemiológicos envolvendo esse tema ainda são escassos no Brasil.


A maioria dos traumas ocorreu dentro da própria residência e foi devido a traumas baixa energia. Dos pacientes cujas fraturas ocorreram devido a traumas de baixa energia, observa-se que mais de 38% dos acidentes poderiam ter sido evitados, uma vez que ocorreram no momento em que o paciente se levantava ou utilizava a escada.


Para tanto, medidas epidemiológicas simples e econômicas que orientem e instruam a população idosa a se levantar cautelosamente (seja da cama pela manhã, de uma cadeira ou ao sair do carro), e tomar mais cuidado ao descer escadas, podem reduzir a incidência de fraturas de fêmur proximal em até aproximadamente 40%, trazendo grandes benefícios na qualidade de vida da população idosa, além de uma enorme diminuição da morbimortalidade e dos custos socioeconômicos desse problema cada vez mais frequente.




Referências:


Determinantes socioeconômicos e demográficos na assistência à fratura de fêmur em idosos

Joselene Gomes Madeiras, Eraldo Shunk Silva, Mirian Ueda Yamaguchi, Sonia Maria Marques Gomes Bertolini, Cássia Kely Favoretto Costa, Helen Katharine Christofel, Marcelo Picinin Bernuci, Ely Mitie Massuda


Fractures of the proximal extremity of the femur: Current diagnostic and therapeutic classification overview - Scientific Figure on ResearchGate. Available from: https://www.researchgate.net/figure/The-AO-classification-system-of-proximal-femur-fractures-reproduced-with-modifications_fig1_289038510


Epidemiologia das fraturas do terço proximal do fêmur em pacientes idosos.

Daniel Daniachi, Alfredo dos Santos Netto, Nelson Keiske Ono, Rodrigo Pereira Guimarães, Giancarlo Cavalli Polesello, Emerson Kiyoshi Honda


Fraturas de fêmur em idosos no Brasil: análise espaço-temporal de 2008 a 2012.

Soares, Danilo Simoni, Mello, Luane Marques de, Silva, Anderson Soares da, Martinez, Edson Zangiacomi, & Nunes, Altacílio Aparecido. (2014). Cadernos de Saúde Pública, 30(12), 2669-2678.


Características Epidemiológicas E Causas Da Fratura Do Terço Proximal Do Fêmur Em Idosos.

José Soares Hungria Neto, Caio Roncon Dias, José Daniel Bula de Almeida

Rev Bras Ortop. 46. 660-667. 2011. 0102-3616

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